Veado Campeiro

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O veado-campeiro (nome científico: Ozotoceros bezoarticus) é um mamífero ruminante da família dos cervídeos e único representante do gênero Ozotoceros. Semelhante fisicamente ao cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), é geneticamente próximo ao cervo-andino-do-norte (Hippocamelus antisensis). Ocorria exclusivamente em áreas abertas da latitude 5º a 41º S, mas atualmente as populações estão fragmentadas e reduzidas, ocorrendo em algumas localidades do Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai.

É um cervídeo de porte médio, medindo até 120 centímetros de comprimento e pesando 40 quilos. Machos são um pouco mais pesados e apresentam chifres com três pontas. São animais de hábitos diurnos e pouco sociais, vivendo em áreas que variam de 0,181 a 175 quilômetros quadrados. É um pastador-podador, alimentando-se de inúmeras espécies vegetais, principalmente gramíneas, incluindo cultivos agrícolas. Seus predadores são a onça-pintada (Panthera onca), a onça-parda (Puma concolor) e filhotes podem ser predados pela jaguatirica (Leopardus pardalis) e pelo lobo-guará (Chrysocyon brachiurus). A gestação dura cerca de 7 meses e dá à luz um filhote por vez, que pesa cerca de 2 quilos. A maturidade sexual é alcançada com 14 meses de idade em média.

Não é considerado como ameaçado de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), sendo avaliado como espécie quase ameaçada, alertando para um perigo de extinção futuro. Entretanto, todas as avaliações dos países em que ocorre o consideram em algum grau de ameaça, estando criticamente em perigo em alguns locais, como no Uruguai, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e São Paulo, estando provavelmente extinto do Paraguai, devido principalmente à destruição do habitat para dar lugar a plantações de Eucalyptus e Pinus, criações de ovinos e caça furtiva. Apesar de já ter existido aos milhões, as populações atuais estão isoladas geograficamente e reduzidas, sendo abundantes apenas no Pantanal e áreas de Cerrado. A população em cativeiro é reduzida e pouco sistematizada, dificultando projetos de reintrodução.

Etimologia

O veado-campeiro também é conhecido por veado-branco, veado-galheiro ou simplesmente veado.[2] Veado-campeiro faz alusão a ser encontrado somente em ambientes abertos. Veado-galheiro é uma referência a suas galhadas. O nome indígena suaçutinga vem do termo tupi para "veado branco", suasu'tinga. Suasuapara vem do termo tupi suasua'para, "veado curvo", numa referência aos seus chifres curvos.[3] Em guarani também é conhecido por gwazú-tí ou guasu ti, principalmente no sul do Brasil, norte da Argentina e Paraguai. Na Argentina também é conhecido por yoam-shezée em puelche.[2]

Taxonomia e evolução

O veado-campeiro foi descrito por Carolus Linnaeus, em 1758, inicialmente no gênero Cervus. O gênero Ozotoceros só foi descrito em 1891, por Florentino Ameghino. Atualmente monotípica,[4] a espécie também já foi incluída no gênero Odocoileus, mas desde 1987 está classificada no gênero Ozotocerus.[5]

O veado-campeiro faz parte da subfamília Odocoileinae, que abrange os cervídeos do Novo Mundo. Esses cervídeos evoluíram em espécies que vivem em ambientes florestais, como os dos gêneros Mazama e Pudu, e os que vivem em ambientes abertos, que incluem o veado-campeiro e o cervo-do-pantanal.[6]

Ele provavelmente surgiu durante o Pleistoceno, havendo registros fósseis desse período no Brasil e no Uruguai, e do Holoceno, na Argentina.[6] Tais fósseis do Quaternário foram descritos como Cervus pampaeus por Auguste Bravard em 1857, mas esse nome foi considerado sinônimo do veado-campeiro desde 1943, por Ángel Cabrera.[4]

Estudos moleculares corroboram o monofiletismo do gênero e o colocam como grupo-irmão do cervo-andino-do-norte (Hippocamelus antisensis).[7][8] Entretanto, dados de morfometria do crânio colocam o veado-campeiro como mais próximo do cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus).[9] Já foi sugerido também que o veado-campeiro, juntamente com o cervo-do-pantanal, formavam um clado com o gênero Odocoileus, do qual faz parte o cariacu ou veado-galheiro (Odocoileus virginianus).[6] Entretanto, o veado-campeiro e o cervo-do-pantanal compartilham sinapomorfias com os gêneros Mazama e Pudu, excluindo o veado-galheiro.[6][8]

São reconhecidas cinco subespécies do veado-campeiro:[10][11][12]